As Águas de Março


O verão se foi. As Águas de Março restaram. O Tom Jobim tinha razão ao citar Guimarães Rosa "O sertão vai virar mar... o mar vai virar sertão". As estações estão trocadas, destoadas, estragadas. A tragédia de Fukushima - Japão está aí, tantas outras vem se repetindo... nós nos esquecemos tão rápido... Haiti, Angra, Rio, Santa Catarina sob as águas, Niterói, Nova Friburgo e Região Serrana....Isso só pra falar do que foi noticiário, do que passou na Globo. Àparte disso ficou de fora um monte de coisa que demonstra - reforça - o que vou dizer: O mundo entra em colapso. Não há mais caminho de volta. 

Ao entulharmos nosso lixo - crescente e multiplicante - nos condenamos a uma prisão perpétua sob o lixo. Nossas cidades do futuro viverão sobre (sob?) o lixo. O lixo vai nos sufocando, nos asfixiando, nos transformando em repetidores, em sacos plásticos repletos de um vazio existencial que dá lugar ao consumismo irresponsável, famigerado, indispensável e incomensurável. 

Não vivemos sem nos transformar em marionetes do lixão do mercado - o que retroalimenta a indústria do lixo: Matamos nossas florestas, nossos rios, nossos mares. Nossos peixes estão mortos, nossos pássaros presos. Não comemos mais sem agrotóxicos, sem transgênicos, sem alguma parte de nossos alimentos estar contaminado de alguma maneira pelo lixo. Comemos, então, lixo. Viramos lixo. Lixamos nosso futuro. E estamos nos lixando com isso. Lixai-vos. Lixaram-nos. 

As Águas de Março agora, carregam mercúrio, metais pesados, esgoto, e mais uma infinidade de tranqueras que são jogadas diuturnamente na natureza. Todo o dia a gente vê isso. Não tem mais jeito. O lixo leva embora o que a natureza reservou para o homem durante milênios. Durante quantos anos mais duraremos nesse mundo para assistir a isso tudo?