Senhas
I
Eu prefiro a multiplicação,
porque somente através da multiplicidade
conseguimos unidade -
força maior de uma união.
Eu prefiro o frescor dos seus olhos,
quando me encaram,
mesmo que seja através das letras,
das entrelinhas que se escondem
de todos os outros olhos,
mas perfeitamente visíveis
aos meus.
Se o destino teima em pregar-lhe peças,
que multiplique,
sete vezes sete,
até o infinito,
para que eu consiga refazê-la,
após tamanhas conjunções.
Porque eu prefiro a multiplicação
dos seus olhares,
das suas investidas disfarçadas de salvação -
prefiro o seu perfume passeando pelo ar,
quando de longe consigo vê-la sorrir.
II
Não gosto de meio termo,
não gosto de ser perspicaz,
e como diria a Adriana Cacanhoto,
eu não gosto do bom senso.
Eu não tenho jeito de ter platéia,
prefiro ficar com uma alcatéia -
não tenho jeito de pastor,
nem tenho tido com o amor.
Eu não gosto da espera por você,
prefiro fazer acontecer.
Eu não gosto de rimas,
não gosto de santos.
Eu não gosto de muitas coisas,
muitíssimas coisas,
mas gosto muito de você.
III
multiplique seus sonhos
seus desejos
suas fantasias
suas aflições.
multiplique os eu te amos
multiplique os encantos
multiplique os tamancos
multiplique os arranjos
multiplique sua intuição
multiplique seu sorrisos
multiplique os arrepios
multiplique os poemas
multiplique as vírgulas e os pontos finais
multiplique os recados
e os versos sem finais
multiplique-se
e multiplique-me
multiplique minha vontade
multiplique sua vontade
multiplique-as à vontade
(...)
multiplique-se contra a luz
e vire-se para o espelho
com certeza você verá
um palhaço sem picadeiro.