Clarice

Eu queria uma Clarice extremamente forte, feminina, translúcida, despida de pudores, com desejos que transpiram e exalam ritmo, cheiro, pulsação e explosões. Uma Clarice onde se leia bem alto que Escrever é procurar entender.... mesmo que eu não entenda, e nem queira mesmo, afinal de contas, é pela essência que nos encontramos abençoados, repletos de poder e glória, agora e para sempre, tudo devidamente creditado e legalmente deduzido. Questão de honra e bom senso.

Eu queria uma Clarice santificada, sem eira nem beira, uma Clarice onde eu a tenha de vermelho, onde a toque levemente e consiga sentir um leve arrepio descer pela sua nuca.

Eu queria uma Clarice devassada, aberta como todos os seus livros, devorada através de suas letras, como carnes e pelos... que eu possa segurar pelos cabelos, senti-la ofegar, ler seus escritos devagar.

Eu queria uma Clarice onde eu a tenha como uma ovelha desgarrada, supracitada, super mulher, ou como diria meu querido poeta Mário Quintana - uma mulher biônica!

Eu queria uma Clarice  que me faça voar, me ensine a dançar e me rogue pragas, pra depois me perdoar.

Eu queria uma Clarice que salte das maiores alturas e pule nas profundezas mais ímpares.

Eu queria uma Clarice livre, leve e solta, para que eu a leve para longe e depois retorne renovada.

Eu queria uma Clarice para dizer TE AMO e confundi-la com o meu maior sonho.

Eu queria uma Clarice para chateá-la, aborrecê-la, feri-la - porque assim são os homens, seres imperfeitos, que não se contentam, são pobres e burros. Mas eu também queria uma Clarice para curá-la, salvá-la e eternizá-la.

Eu queria uma Clarice para tatuar no meu peito amor perfeito.

Eu queria uma Clarice para ter que dividi-la com o mundo, porque dela seriam meus maiores poemas de amargura e solidão.

Eu queria uma Clarice para me contar a história do mundo e me fazer entender de uma vez por outras o por quê que o mundo é belo.

Eu queria uma Clarice para colocá-la numa redoma de vidro, num cofrinho de porquinho, numa bola de cristal - e, até mesmo !, numa cápsula do tempo - para que eu pudesse tê-la conhecido antes em eminha vida, e ter mudado todo o curso de minha existência.

Eu queria uma Clarice que me ensinasse a orar e a temer a Deus, e que afastasse de meus poemas todos os motivos que não fossem seus.

Eu queria uma Clarice para pegar, moldar e livrar de todo o mal. Uma Clarice que eu pudesse botar uma fantasia qualquer e fingir que eu fosse um príncipe.

Eu queria uma Clarice para tudo o mais. Uma Clarice desse jeito. Sem que devesse pedir licença ou me desculpar. Eu quero uma Clarice para me apaixonar.