
O amor é uma tragédia. Durante toda a história da humanidade conhecemos incontáveis casos de amores imperfeitos, impossíveis, inenarráveis. O amor é uma profunda entrega, omissão, aceitação e submissão da experiência da magnitude da falha humana em entender o outro. A entrega da identidade para esse outro dispõe, inclusive, de mecanismos de coerção, chantagem e beneficiamento da sorte alheia. A fortuna sorri para os amantes, conhecedores da paixão – esta sim, bem aventurada, pois se torna melhor que o amor menos porque é conhecedora da essência da experiência divina da humildade, entrega e abnegação do que pelo descompromisso em prostar-se perante os anseios e loucuras próprios daqueles que habitam os reinos do amor. A fortaleza da paixão consiste, basicamente, em disposição para uma entrega total, infinita enquanto dure, admitida plenamente a aceitação de que sua brevidade é condição sine qua non para sua existência. Finalmente, o amor não ocupa o mesmo espaço no coração dos amantes que a paixão. O amor, como tragédia, é parte indissociável da natureza humana, assim como a paixão; essa última, porém, não tem a mínima preocupação com a razão, o que abate por completo – e arruína por inteiro – os que se entregam ao amor. O amor é uma tragédia.