
A kriptonita da felicidade é o grito. É o grito que corrói a relação - toda e qualquer relação. Pereniza a condição de se estar bem, incomoda quando esse mecanismo de forçação de barra desrespeituoso e agressivo é acionado.
O grito dissipa os bons fluidos de uma solidez sentimental. É a atribuição espartana à oratória ateniense. O grito é a incorrespondência, a incontingência e a incontrolável insubstancialidade de se convencer pela brutalidade da grunhidez-estapafúrdia da palavra agressora.
O grito condiciona a se obedecer pela violência da opressão. Revela uma incomensurável não-condição em estabelecer-se comunicação sadia e convincente (quando digo convincente quero me refererir principalmente ao embate de idéias que se consubstanciam diante de regras pré-estabelecidas e consensualmente aceitas).
A kriptonita da felicidade é o grito. Porque todo relacionamento desmorona perante essa instituição de violência verbal. Não é possível pior demonstração de desrespeito à retórica sadia e atlética do que o grito. Para isso não é preciso sofisticação nem polidez. Apenas que se retome os instintos primais do homem e que se aproxime da comunicação irracional dos animais. Mas não é para isso que fomos preparados culturalmente enquanto homens e mulheres.
Que se extermine o perigo da kriptonita da felicidade, a fim de que sejamos felizes. De fato.