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Por que não “coletivas e individuais” ?


E ae.... em primeira mão, o carona virou motorista... hahaha! Obrigado ao Felipe Ribeiro pelo great work. Aqui está: www.bazaga.blog.br !!!

E nada melhor do que comemorar em grande estilo. Para reinaugurar, um texto meu das antigas, da época de UFJF. Foi criado porque não concordei um dia numa aula do Prof. Carlos Márcio com a posição do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, que sustentava então no (famoso) texto citado uma posição única (coletiva). Então meu professor sugeriu que eu escrevesse um texto criticando essa posição do Roberto Cardoso. Foi o que fiz, e o texto foi apresentado em sala na aula seguinte. Só não me lembro agora da data. Mas fica o registro. E se quiser acessar o texto ele está aí logo abaixo, mas não repara é de mil novecentos e antigamente... :D



Por que não “coletivas e individuais” ?


Por Jorge Bazaga Jr.

Se finalmente me tornei sociólogo (como indica o decreto de minha nomeação), o motivo principal é pôr fim a esses exercícios com base em conceitos coletivos cujo espectro está sempre rondando. Em outras palavras, a sociologia também só pode ter origem nas ações de um, de alguns, ou de numerosos indivíduos distintos. É por isso que ela é obrigada a adotar métodos estritamente individualistas Max Weber - Conf. Cit. BOUDON, R. e BOURRICAUD, F., 93. (Em carta a Robert Liefmann, datada de 9 de março de 1920, ano de sua morte, Max Weber escreve...)


A partir do texto de CARDOSO [1], sentimos a necessidade de discutir a sua idéia acerca de representações: “(...) É procurar pensar, como antropólogos, os fundamentos de nossa disciplina não raro mitificados no interior de nossas representações (por certo coletivas[2]), sustentadoras de um ofício muitas vezes realizado tal como um rito profissional, no interior do qual livros, teses, artigos, comunicações e – por que não ? – conferências como esta, constituem sua expressão máxima”[3].

Implicar à noção de representação a idéia de que toda ela refere-se sempre ao agente da ação sendo coletivo é, no mínimo, suspeito de dúvida por parte do estudioso da disciplina, quando, por exemplo, remete-mo-nos sua análise à WEBER.

Para WEBER, a única coisa que explica a sociedade é a ação dos indivíduos relacionadas aos meios para atingi-las; ou seja, WEBER nega veementemente a característica do agente racional ao coletivo, a grupos – a não ser que esses sejam formados a partir de agentes individuais.

Relembremos acerca da teoria da ação de WEBER[4], onde “Por ‘ação’ entende-se, neste caso, um comportamento humano (tanto faz tratar-se de um fazer externo ou interno, de omitir ou permitir) sempre que e na medida em que o agente ou os agentes o relacionem com um sentido subjetivo. Ação ‘social’, por sua vez, significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso”[5]

O tema que interessa a WEBER não é a ação, mas sim, mais especificamente, a ação racional (usada como recurso metodológico). Daí, o individualismo metodológico de WEBER – que trabalha com a idéia de que o indivíduo é um agente racional e, a classe ou o grupo se comporta como indivíduo (-s) – espelha uma estrutura individual.

Dentro da teoria da ação weberiana, onde procura-se identificar os projetos que orientam, dão sentido, às ações; o seu constructo de “tipo ideal” pode ser compreendido rudimentarmente através da fórmula: projeto + ação. E então, aí, notamos uma diferença básica entre WEBER e DURKHEIM: quando o primeiro trata da ação impulsionada por cálculos, e o segundo trata daquela impulsionada pelos valores.

Enfim, entre o texto de CARDOSO e o pensamento de WEBER, encontramos razão ao discordar da posição adotada pelo primeiro, que ao abordar as nossas representações como sendo “por certo coletivas”, reduz toda a análise weberiana sobre a ação (e suas implicações), toscamente exposta anteriormente, ao mero esquecimento.

Para exemplificarmos a importância da análise no (-s) âmbito(-s) individual (-is), como queria WEBER, citamos a fala de um reconhecido antropólogo da “nova” geração brasileira, VIANNA[6] ao apresentar um de seus trabalhos: “Optei, portanto, pela imersão detalhista num único caso (que por ser tão específico acaba permitindo também generalizações (...)”[7].

E, finalmente, se para CARDOSO o trabalho do antropólogo deve (ou não) ser fim de análises coletivas aqui não nos interessa, mas sim somente o fato de que esse autor foi, no mínimo, “infeliz”, quando da elaboração do texto no qual trabalhamos.



[1] CARDOSO, 1988: 13-26

[2] Grifo nosso

[3] Ibidem: 14.

[4] WEBER, 1991: 03-35

[5] Ibidem: 03

[6] VIANNA, 1997: 247-79

[7] Ibidem: 248-49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.BOUDON, R. e BOURRICAUD, F. Dicionário Crítico de Sociologia. São Paulo: Ática, 1993.

2.CARDOSO DE OLIVEIRA, R. Tempo e Tradição: Interpretando a Antropologia. In: Sobre o pensamento antropológico. RJ: Tempo Brasileiro/CNPQ, 1988.

3.VIANNA, Hermano. Fragmentos de Um Discurso Amoroso (carioca e quase virtual). In: Galeras cariocas: territórios de conflitos e encontros culturais. RJ: Editora UFRJ, 1997.

4.WEBER, M. Economia e Sociedade – Fundamentos da Sociologia Compreensiva. Brasília: Editora UNB, 1991. Vol 1.