Ontem fui à estréia de Jogos Mortais 3. Com certo atraso em relação ao lançamento americano, que foi – se não me engano – dia 27/10. O pior é que os pôsteres do filme avisam que o lançamento será EVERYWHERE OCTOBER 27. Hahaha, everywhere não é aqui! Fala sério heim?
Embora não seja inclinada a ser crítica, trato de tecer algumas observações sobre o filme – tão esperado para os amantes de tripas saindo pra fora, e mutilações superexpostas ao máximo (sic).
Já ouvi dizer que o primeiro Jogos Mortais era o melhor filme do gênero desde o Silêncio dos Inocentes, quando inaugurou a saga do Dr. Hannibal Lecter.
Uma idéia um tanto o quanto força-barra demais. Tudo bem, tem vários requisitos para possíveis analogias entre as duas séries. Vamos lá: requintes de crueldade exacerbados, suspense e conflitos psicológicos doentios, psicopatas, sociopatas e serial-killers. Um personagem principal inteligentíssimo, que utiliza suas capacidades mentais para o mal.
Jigsaw e Hannibal são iguais? Diferentes? Possuem analogias terroristas facilmente reconhecíveis entre si? Qual a função desses personagens? Simbolizar o mal que pode se desenvolver no ser humano? Explicitar a maldade encarnada no homem? Impressionar? Chocar? Revelar uma sociedade que aplaude a tortura, o caminho do sangue – como diz o cartaz de Saw 3?
Independente do que seja, entendo que alguma coisa fica fora do lugar. Porque parece que não precisa de tanto escândalo, tanto manual de tortura para se chegar a um lugar legal no quesito de filme de terror. Td bem, filmes assim necessitam impressionar. Mas qual a distância entre o que impressiona e o que vulgariza a morte? Melhor: que distância esse tipo de filme guarda em relação ao que é saudável para alguém?
Muitos vão dizer: - É muito legal. Sim, o quê? Assistir a mutilações, perversão mórbida, jogos mortais? Por que é inteligente? Sem dúvida, mas acredito que possa haver meios de se fazer filmes intelingentíssimos sem a utilização de requintes de crueldade tão expostos como se viu em Saw 3.
Em relação à comparação com a trilogia do Dr. Hannibal Lecter, acredito que existam analogias reconhecíveis. Não sei quem é pior. Quem é mais mal. Difícil, meus comentários encontram seu limite no aspecto psicológico da questão.
Até onde consigo enxergar, me parece – ambos os filmes citados aqui, e principalmente a trilogia de Jogos Mortais – de um extremo mau-gosto. Um mau-gosto mórbido que se apodera das pessoas e é, ao mesmo tempo, um sinal de que os tempos estão mudando, e pra fazer impressionar parece não ter limites, o que me leva a pensar: - Qual será o limite para as próximas gerações de Jogos Mortais? Jigsaw virar uma reencarnação de Jason e beirar o pastelão, ou o sangue deixar as telonas e derramar-se pela imaginação criativo-destruidora de possíveis fãs do torturador.
No Brasil experimentamos a tortura e não gostamos. Ninguém gosta. É só acessar o Tortura Nunca Mais. E nem vou muito longe nisso. Senão poderia mostrar o filme para algum sobreviventes desses tempos tupiniquins, ou perguntar pra algum filho de vítima.
Por que então aplaudir a exemplos que enaltecem esse tipo de manual de como-rasgar-e fazer-ao-contrário-a-declaração-de-direitos-humanos? Até quanto estamos longe do que se vê e se aplaude com louvor e entusiamo? Que sirva apenas para a reflexão.