Esse não deveria ser um poema de amor, repleto de histórias românticas, beijos de amor, recados sub-ententendidos. Eu pego a minha malzebier, reflito sobre alguma memória do passado, ligo o computador. Pronto! Deixo as palavras rolarem pelas teclas. Alguma coisa que eu queria esconder de você agora está desnuda, pronta para ser consumida, devorada. Eu não entendo como nem porquê faço isso, só sei que quando vem arrebata tudo, me cega os olhos e só faz trabalhar, escrever. Será um lapso de salvação ou será somente inspiração? Se eu nem lhe vejo direito, nem lhe encontro, isso deveria ser mais difícil do que é. Mas sendo minha melhor desilusão, aproveito para reiniciar a ouvir músicas românticas, músicas de amor.
Embora eu não esqueça fácil, tudo teima de repente em desaparecer de minha cabeça. Eu não sofro mais porque não tenho você, porque você não me sai da cabeça. Minha malzebier agora já não preenche tanto espaço, já não é mais tão legal assim quando engulo – assim como não é legal saber que o que escrevo expressa o que sinto, demasiadamente sincero, e nem tem a ver com o que realmente deixei de sentir, pensar e sonhar.
E se não choro à toa, minhas lágrimas acabam tendo um gosto de estranho. Não é fácil, sabe, não é fácil. Acontece que não podemos muito, nem mesmo juntos trabalhamos, escrevemos. Nem um poema a quatro mãos, nem um bela canção de amor. E se meu grito soa cego, minha poesia não me deixa mentir, minha poesia me deixa na mão. Deslealmente confessa tudo que sabe, e nem pede minha opinião. Abre o jogo, revela as fotos e exibe o filme. Tudo ao mesmo tempo, sem tempo pra defesa, sem tempo pra postergação.
Sabe, eu gostaria de voltar a ler Fernando Pessoa, voltar a gostar das mesmas coisas. Mas a minha poesia não deixa, e como você não aparece, acabo lhe esquecendo, afinal de contas, nada é melhor para a poesia que o esquecimento – mesmo momentâneo – das pequenas grandes coisas.
28-06-11