poema da desconstrução

eu queria um conto onde pudesse ter nuvem, passarinho e sabiá-laranjeira pulando pelo mato;
queria uma mesa farta, cheia de torta, bolo e quitutes feitos de milho e de coco;
queria uma oração que me bastasse e me confortasse, até o outro dia;
queria um sono eterno que fosse livre de impostos, taxas e manutenção.

eu queria a desobrigação de pagar minhas contas, de ter que ter conta em banco;
não queria ter que fazer empréstimo se quisesse ter que pagar as contas antigas;
queria ter uma conta gorda na suíça e comer, toda vez que quisesse, chocolate suiço;
queria a mais maravilhosa das mulheres para, conforme o Mário Quintana diz, ser minha mulher biônica.

queria um poema da descontrução, onde não tivesse prazo, rima e nem assinatura;
queria dizer que a vida, apesar de doce, é muito dura;
queria lembrar daqueles que sofrem e passam fome na África;
queria que Deus nos revelasse Sua Infinita Bondade.