O Caminho dos Espelhos

I

Digo q a dor é forte
mas não mais q a morte.

Digo que o presente muda

e q a saudade é surda.

Digo q a verdade é o rito
-
desesperado amigo.
Digo q o som da palavra
é o grito surdo da lavra.

II

A vida encurta
e desdobra
o fio da realidade
q desvela
para os olhos
q - por um segundo -
teimam em abrir-se
para o infinito.

III

As maiores desculpas
para os teus erros,
e para todos os meus acertos,
são a minha ânsia,
a minha destemperança e a minha vaidade.
Todas as três,
composições do homem,
são parte do Caminho dos Espelhos.

IV


O que poderia ter sido,
merece ser dito,
e num instante
eu mudo toda minha vida adiante.

Apenas digo: q só reste ao menos o grito, q a vida - ainda q no último suspiro - valha a pena, q a boca seja beijada e a dor saciada, q a última esperança seja alcançada, e q eu lhe acolha nos braços e com seus olhos fechados, te conte dos segredos do mundo.