O poema não é possível
não é possível a criação
não é possível o amor
não é possível a satisfação
Não é possível esquecer-me do que fui
nem do passado de heróicos absurdos
não é possível esquecer da pedra no caminho
do sono que não chegou nunca naquela noite
Não é possível fingir que me esqueci
não é possível aceitar tudo e ponto final
não é possível escravizar-me à uma mentira
onde nem seus poemas referem-se à verdade
Não é possível dizer que me esqueci
não é possível olhar mais uma vez nos seus olhos
não é possível dizer o quanto estava certa
porque do amor só restou uma paisagem perdida
de quando você abria a janela do seu quarto
e não é possível que isso se repita
não é possível querer que eu aceite
não é possível querer que eu aprove
a sua imensa desenganação
não é possível a impossibilidade
o amor cobre de cinza o que não consegue conquistar
pois a conquista é sempre marcada de sangue
e não é possível mais acreditar
não é possível mais cruzar os braços
e deixar que o mundo todo se perca em chamas
o meu coração está fraco e abatido
mas não se esqueceu de quando você, de sua janela,
não se esquecia de admirar a paisagam perdida
- o caminho da amante para o reino do amor eterno
do amor que nunca mais pararia de incomodar
porque não é possível parar o poema
o poema que não é possível é imparável
o poema não tem fim, assim como o amor
é um fio invisível que nos une
do princípio ao fim.