Flores Mortas



Música Incidental:
As Flores do Mal (Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)



Eu queria dizer muito mais do que eu vou dizer.

Queria dizer um milhão de palavras por segundo. Pra acabar com todo o meu sofrimento, pra acabar com toda a dor do mundo. Porque a dor acaba virando um câncer, um mal que extermina pouco a pouco tudo.

A vida vai ficando cinza. Vai escurecendo. Vai virando terrorismo o que antes era belo e mágico. O que antes era belo e mágico.

Porque o mundo não compensa os justos e os inocentes. Porque a vida não sorri igual para todos. Porque a descrença é vizinha da maldade, e os ímpios de coração muitas vezes têm mais chances do que aqueles abandonados pela deusa Fortuna.

A indignação com a injustiça é latente - velha conhecida. Infinita dor que dói sempre. Infinita mácula que aterroriza nossos corações cansados de tanto sofrer.

E uma data em especial no ano não ajuda a matar a fome. Não ajuda a acabar com a indiferença, nem com o rancor, e nem com a raiva regada com precisão cirúrgica. A raiz do mal não se deixa conhecer, não tem endereço.

***

Não poderia dizer mais do que eu disse aqui hoje.

Tudo o mais soaria grotesco, animal. Soaria estúpido e ignorante. Mas depende. Sob qual ponto de vista você condenaria essas palavras? Sob qual prisma? Sob qual cor?

Confortavelmente instalado(a), é fácil descer o cacete no que quiser. Quando se enfrenta o mundo sem background a história é outra. Uma vez mais, e para sempre, a história é outra.